A escala 6×1 é um modelo de jornada onde o trabalhador exerce suas atividades por seis dias consecutivos, com apenas um dia de descanso semanal.
Este formato é utilizado principalmente em setores como comércio, restaurantes, e serviços essenciais, onde a operação precisa ocorrer durante a maior parte da semana, inclusive aos fins de semana.
Entretanto, esse modelo tem gerado crescente controvérsia, principalmente devido aos seus efeitos prejudiciais sobre a saúde mental e física dos trabalhadores. Além disso, ele interfere negativamente no equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Como resultado, a escala 6×1 tem se tornado o centro de um debate cada vez mais intenso no Brasil.
O funcionamento da escala 6×1
Na escala 6×1, a jornada de trabalho diária é, em média, de 7h20 em seis dias consecutivos. O trabalhador, então, tem um único dia de descanso. Esse formato é comum em setores como supermercados, hotéis, e restaurantes, que precisam operar continuamente.
A legislação trabalhista brasileira permite oito horas de trabalho diárias e até 44 horas semanais. Contudo, a jornada de trabalho pode ser estendida com a autorização de horas extras. Para muitos trabalhadores, isso resulta em jornadas ainda mais longas, especialmente nas escalas 6×1.
Veja aqui o nosso artigo que fala sobre escala 6×1
Por que a Escala 6×1 está sendo questionada?
A principal crítica à escala 6×1 está em seu impacto sobre a saúde e o bem-estar dos trabalhadores. Trabalhar por seis dias consecutivos, com apenas um dia de descanso, pode levar ao esgotamento físico e mental, além de afetar qualidade de vida.
O trabalhador frequentemente não tem tempo para se recuperar, o que pode levar a estresse crônico, insônia e burnout, além de dificultar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, prejudicando sua dedicação à família, lazer e cuidados pessoais.
Esses problemas de saúde e qualidade de vida geraram um movimento crescente contra a escala 6×1.
Um exemplo disso foi o vídeo viralizado por Rick Azevedo, balconista de farmácia, que denunciou seu esgotamento causado pela jornada de trabalho intensa. Seu vídeo atingiu milhões de visualizações, provocando um debate importante sobre as condições de trabalho no Brasil.
A proposta de mudança: A PEC de Erika Hilton
Diante desse cenário, a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) apresentou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que visa por fim a escala 6×1 e reduzir a carga horária semanal para 36 horas. Além disso, a proposta sugere a introdução de um modelo de quatro dias de trabalho por semana, mantendo o limite de oito horas diárias.
A PEC foi proposta no 1º de maio, Dia do Trabalhador, e já obteve um número significativo de assinaturas no Congresso. No entanto, para que a proposta avance, são necessárias pelo menos 171 assinaturas dos deputados federais.
De acordo com Hilton, a mudança não apenas melhoraria as condições de saúde dos trabalhadores, como também traria benefícios para as empresas, ao aumentar a produtividade. Ela argumenta que a adoção de jornadas mais curtas é uma tendência global, que visa adaptar os modelos de trabalho às novas realidades do mercado.
Veja aqui quem assinou PEC para redução da jornada de trabalho
Impactos para os setores de trabalho
Se a PEC for aprovada, ela afetará principalmente setores que dependem de um funcionamento contínuo. O comércio, indústria e serviços essenciais são alguns dos segmentos que enfrentariam dificuldades para se adaptar ao novo modelo.
Leonel Paim, da Abrasel-SP, reconhece que grandes empresas podem se adaptar, mas aponta que microempresas e pequenos negócios enfrentariam dificuldades, especialmente em setores como restaurantes, onde os custos operacionais aumentariam.
No entanto, movimentos sindicais veem a PEC como uma oportunidade para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. Ricardo Patah, presidente do sindicato dos comerciários, acredita que essa mudança pode resultar em trabalhadores mais satisfeitos e qualificados, o que traria benefícios tanto para eles quanto para seus empregadores.
O lado empresarial e os custos
Por outro lado, muitos empresários demonstram preocupação com os custos adicionais que a mudança pode gerar. Ivo Dall’Acqua Júnior, da FecomercioSP, alerta para os impactos financeiros que a redução da jornada de trabalho traria para pequenas e médias empresas. Ele destaca que, sem a redução proporcional do salário, essas empresas poderiam enfrentar um aumento de 40% nos custos.
Além disso, João Galassi, da Associação Brasileira de Supermercados, considera que a mudança não seria suficiente para alterar o cenário econômico geral. Para ele, é necessário discutir questões mais amplas, como a desoneração da folha de pagamento e a reforma tributária, para garantir que a redução da jornada não comprometa a competitividade das empresas.
Conclusão: O Debate em Curso
A discussão sobre a escala 6×1 e a PEC de Erika Hilton traz à tona um tema importante: como equilibrar as necessidades das empresas com o direito dos trabalhadores a uma jornada mais equilibrada e a melhor qualidade de vida.
A proposta, embora ainda esteja em fase inicial no Congresso, já gerou um debate relevante sobre as transformações no mundo do trabalho no Brasil.
O caminho para a aprovação da PEC não é simples, e ela precisa de amplo apoio no Congresso para avançar. No entanto, a crescente pressão de movimentos sociais e a conscientização sobre a saúde e o bem-estar dos trabalhadores indicam que mudanças significativas podem ocorrer no futuro próximo.
Escrito por: Maria Echezuria
Data: 13/11/2024